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Declaração de Zema recebe críticas de outros mineiros

O governador Romeu Zema voltou às manchetes nacionais nesta semana após a repercussão causada pela entrevista em que tornou a falar sobre a necessidade de união de estados do Sul e do Sudeste frente ao Norte e Nordeste do país para articulação política e participação na divisão de verbas da União. Analisadas pelos críticos como novas declarações de teor preconceituoso e separatista, a reação às falas foi ampla e reúne políticos de diferentes espectros ideológicos, além de instituições que representam o Nordeste brasileiro.

O governador Romeu Zema voltou às manchetes nacionais nesta semana após a repercussão causada pela entrevista em que tornou a falar sobre a necessidade de união de estados do Sul e do Sudeste frente ao Norte e Nordeste do país para articulação política e participação na divisão de verbas da União. Analisadas pelos críticos como novas declarações de teor preconceituoso e separatista, a reação às falas foi ampla e reúne políticos de diferentes espectros ideológicos, além de instituições que representam o Nordeste brasileiro.

“Temos feito o mesmo trabalho com os senadores de nossos estados e o que nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos, que é necessário, mas tem um limite, de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada […] Está sendo criado um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade? Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então, Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década”, disse Zema.

Zema tem falado sobre o tema especialmente desde o lançamento do Consórcio de Integração do Sul e Sudeste (Cosud), em cerimônia no início de junho, em Belo Horizonte. Na ocasião, o discurso de mobilização de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul também foi marcado por polêmicas e reações em repúdio. Desta vez, novos atores saíram em defesa da integração nacional e até mesmo de uma decantada tradição conciliatória da política mineira.

Os ecos negativos ao que Zema disse não se resumiram aos opositores de seu governo, mas entre nomes associados à direita e com demonstrações prévias de simpatia ao governador reeleito no ano passado em primeiro turno. Antigo ocupante por dois mandatos da cadeira em que hoje Zema despacha e atual deputado federal, Aécio Neves (PSDB) foi um dos políticos mineiros que se posicionou de forma contrária ao chefe do Executivo. Segundo o tucano, as declarações ferem um histórico de diálogo do estado com outras regiões e sugerem “correção de rota” no governo para evitar retaliações.

“Infelizmente, o governador Zema, talvez por não ter se expressado da forma adequada, acabou por criar mais problemas do que as soluções que busca. Sempre precisamos e muitas vezes contamos com alianças com outras regiões, em especial o Nordeste brasileiro […] Minas nunca foi antagônica às regiões mais pobres do país, até porque fazemos parte delas, muito menos imaginou liderar esse antagonismo. É preciso corrigir rapidamente a rota para não sermos, a partir de agora, vítimas de retaliações que não precisamos. Temos uma longa e importante agenda de interesse do estado para tratar e excluir possíveis parceiros nessas tratativas, como sugere a fala do governador, será, ao final, um grande desserviço ao nosso estado”, comentou o parlamentar.

O presidente do Congresso, senador de Minas Rodrigo Pacheco (PSD), é outro parlamentar que criticou. Ele citou Juscelino Kubitschek, que foi prefeito de BH, governador e presidente da República, para se referir a uma tradição de unificação nacional pregada por políticos mineiros. “Não cultivamos em Minas a cultura da exclusão.

JK, o mais ilustre dos mineiros, ao interiorizar e integrar o Brasil, promoveu a lógica da união nacional”, escreveu Pacheco em suas redes sociais.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), também condenou a fala de Zema. O ex-senador, que se aliou a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas últimas eleições e hoje integra a Esplanada dos Ministérios do petista, considerou a manifestação do governador “absurda” e concluiu sua manifestação de repúdio nas redes sociais dizendo que é hora de descer do palanque e “trabalhar de verdade”.

“Quero até mesmo acreditar que foi por ingenuidade ou talvez por ignorar a própria Constituição Brasileira. No radicalismo não existe equilíbrio, governador. É inaceitável que um governador de um estado tão importante como Minas Gerais, estimule discursos preconceituosos. Somos um só povo e precisamos nos unir em busca de um mesmo objetivo: acabar com a injustiça social e construir uma sociedade mais empática. Chega de divisão. Chega de estimular Direita contra Esquerda e Esquerda contra Direita”, escreveu no Twitter.

Divergência
Parlamentares de oposição a Zema classificaram as declarações como manifestações xenofóbicas e até mesmo racistas. Houve recordação, por exemplo, de que 249 cidades mineiras integram a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e recebem recursos advindos do órgão. Um exemplo de cidade mineira que integra a Sudene é Teófilo Otoni, cujo prefeito Daniel Sucupira (PT) classificou a postura de Zema como promotora de um “apartheid social”.

“Não me surpreende, haja vista que ele reproduz as práticas patrimonialistas do século 18. Ele disfarçou sua postura bolsonarista no período eleitoral para agradar aos eleitores de centro e parte da esquerda, mas tão logo acabou a eleição, ele retornou ao bolsonarismo. O governador, quando propõe essa política de ‘apartheid social’, não está considerando a importancia de 44% do território de Minas, que é o do grande norte. Como já dizia Guimarães Rosa, essa região tem características econômicas, territoriais e culturais similares ao povo nordestino”, disse Sucupira ao EM.

A diretoria-executiva do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em Minas Gerais, legenda que faz parte da base de Zema na Assembleia Legislativa do estado, também se manifestou ontem, por meio de nota. O documento aponta que o comportamento do governador, qualificado como ‘hostil e desrespeitoso’, dificulta a relação do estado no cenário nacional. “Travestido de defensor de interesses do povo mineiro, o governador Romeu Zema, a partir das suas últimas manifestações, cria um clima de divisão no país e insere Minas Gerais em um contexto de polarização política que o PSB de Minas Gerais não consegue ver como positivo. A falta de tato político do governador não gera apenas tensões, mas também provoca o isolamento de Minas, além de ser passível de punição qualquer declaração contra o princípio federativo do Estado democrático de direito”, diz a nota.

Consórcio Nordeste descarta “guerra entre estados”
Desde a formalização do Consórcio de Integração do Sul e Sudeste (Cosud), em junho, o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste) é citado por Romeu Zema e outros governadores do Sul e Sudeste como exemplo a ser seguido na capacidade de articulação política em Brasília. Na entrevista concedida no sábado, o mineiro voltou a citar o grupo nordestino, que reagiu à menção. Em nota publicada no domingo, o presidente do Consórcio Nordeste e governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), falou em nome da instituição e disse que a união dos estados nordestinos não tem intenção de se opor às demais unidades federativas e criticou o que considera uma visão equivocada da região.

“É importante reafirmar que a união regional dos estados do Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento. […]Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais”, diz a nota. O superintendente da Sudene, Danilo Cabral, também comentou a entrevista de Zema e ressaltou que o Norte de Minas já recebeu R$ 300 milhões em incentivos fiscais concedidos às empresas da região.

Governador fala em diálogo
Após a repercussão negativa de sua entrevista em que fala da necessidade de união do Sudeste e do Sul contra o Nordeste, o governador Romeu Zema foi às redes sociais, no domingo, comentar as próprias declarações. “A união do Sul e Sudeste jamais será pra diminuir outras regiões. Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços. Diálogo e gestão são fundamentais pro país ter mais oportunidades. A distorção dos fatos provoca divisão, mas a força do Brasil tá no trabalho em união”, escreveu o governador.

Em seu primeiro ano após ser reconduzido ao governo do estado, ele tem ganhado os holofotes a partir de polêmicas. Na abertura do evento do Consórcio de Integração do Sul e Sudeste (Cosud), em 2 de junho, em Belo Horizonte, comparando Sul e Sudeste a demais regiões brasileiras, ele disse que tratam-se de “estados onde, diferentemente da grande maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial”. A fala repercutiu mal e Zema se retratou no dia seguinte se dizendo “mal interpretado” e afirmou que quis apenas dizer que estados do Sul e Sudeste valorizam a geração de empregos. À época, o governo de Minas emitiu nota informando que as duas regiões concentram 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, com quase 120 milhões de habitantes e que o objetivo do grupo é integrar esforços em áreas comuns para retomar o desenvolvimento dos estados e do país.

Menos de um mês depois, em 1º de julho, Zema voltou à discussão nacional após publicar em seu perfil no Instagram uma citação atribuída ao líder do fascismo italiano, Benito Mussolini (1883-1945). “Fomos os primeiros a afirmar que, quanto mais complexa se torna a civilização, mais se deve restringir a liberdade do indivíduo”, diz a frase compartilhada pelo governador mineiro, que tem o hábito de publicar, diariamente, citações em suas redes sociais para dar ‘bom dia’ aos seguidores.

A publicação foi feita sem contextualização e relação com as postagens anteriores e posteriores do governador. Ela aconteceu, porém, um dia após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou Jair Bolsonaro (PL), aliado do mineiro, inelegível até 2030.

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