O vice-governador de Minas, Mateus Simões, do NOVO, afirmou, durante a entrega da Medalha da Inconfidência, que a memória de Tiradentes e a luta por liberdade devem ser lembradas em “tempos de censura”. A fala soou como uma indireta ao Supremo Tribunal Federal e ao ministro Alexandre de Moraes, que tem sido alvo de críticas de políticos da oposição por decisões em relação ao inquérito das milícias digitais.
O vice-governador foi o principal orador durante a cerimônia realizada, neste domingo, em Ouro Preto, na região Central do estado. A fala ocorreu quando Mateus Simões homenageava o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso com o Grande Colar.
“Com a esperança de que os nossos agraciados de hoje tenham condição de ainda de levar a liberdade como um valor a ser preservado, em tempos de censura, em tempos de limitação da liberdade de expressão, em tempos de taxação da opinião alheia como radical e equivocada apenas pelo fato de não se assemelhar à nossa. É nos ideais dos Inconfidentes que nós devemos nos apoiar”, afirmou.
FHC foi o principal homenageado nesta edição da Medalha da Inconfidência, por ser o autor do Plano Real, que completou 30 anos em 2024. Apesar da honraria, o ex-presidente não compareceu à cerimônia por questões de saúde.
Além dele, outras 170 pessoas entre autoridades, servidores públicos, empresários e pesquisadores foram agraciados com as medalhas por contribuições para a sociedade. Na lista estavam, por exemplo, o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto e a empresária Luiza Trajano. Também foi homenageado o sargento Roger Dias, que morreu durante uma abordagem de um preso em saída temporária, em janeiro deste ano.
Durante o discurso, o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, do PV, também citou os Inconfidentes como símbolo da luta contra a opressão e fez um paralelo com os tempos atuais.
“A celebração da Inconfidência é uma espécie de vacina que Ouro Preto aplica-nos a cada 21 de abril, a fim de nos imunizar contra a epidemia dos diferentes vírus do fascismo. Quem alcança a consciência do papel do Tiradentes e dos ideais dos conjurados de 1789 saberá que o Brasil tem compromisso de raiz com a República e a democracia, a justiça social, a paz e a liberdade”, afirmou.
A cerimônia foi conduzida, num primeiro momento, na Praça Tiradentes pelo governador, Romeu Zema, do NOVO. Ele chegou a ser vaiado por manifestantes que acompanhavam o evento.
Neste ano, a solenidade homenageou a poeta Bárbara Heliodora com o título de Heroína da Inconfidência Mineira. Ela foi casada com Alvarenga Peixoto e participou ativamente de reuniões do movimento de independência contra a Coroa Portuguesa.
Bárbara morreu em 1819, no Sul de Minas, e foi enterrada numa vala comum. Como reparação histórica, foi realizado o despojo, com a retirada da terra do túmulo onde a poeta foi sepultada. O material foi colocado em uma urna e transportado para o Museu da Inconfidência, no Panteão que homenageia os conjurados.